quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O Feliz Natal da Feliz

Oi, leitor... hoje vou republicar um post do Natal do ano passado, que por sinal foi melhor que esse. Não tenho muito mais a declarar. Não estou bem. Mas, como eu espero que VOCÊS se sintam bem, leiam isso aqui. É de todo o coração...

"Oi, leitor! Nossa, qnto espírito de Natal da minha parte! É quase meia noite, pleno 24 de dezembro (e cada vez mais próximo do 25), e cá estou eu, postando no meu blog, ocupando a linha telefônica (a única existente na minha casa) q deveria estar sendo usada para falar com parentes, mas td bem. Não devo desperdiçar meu tempo aqui me explicando. Let's go straight to the point.
Eu acabei de ver o especial de natal da Xuxa, q devo admitir, foi realmente além das minhas expectativas, mostrando as tradições de outros países, outras festas, etc. Então, deitada no tapete (eu gosto do chão, algum problema com isso?), olhando para a televisão, muita coisa passou pela minha cabeça. Muita MESMO. Aliás, mta coisa passa pela minha cabeça todo santo dia, mas agora foi meio q um colapso, uma explosão de pensamentos. Oras, eu ñ tô dizendo coisa com coisa! Tá bom, então serei mais clara...
Essa semana, eu pensei q ñ ia ter um natal mto bom, pelo menos não o melhor da minha vida, com certeza. Nada a ver com falta de dinheiro ou qualquer coisa material pra mim. Não, algo muito mais precioso: minha família. Problemas desse tipo me deixam com o estômago embrulhado, e um tipo de "parece q eu nem existo" inexplicável. OK, esse probleminha foi escolher uma época bem legal, né? Mas, daí, aconteceu uma coisa estranha: ñ sei se eu é q tô meio grogue com essa coisa de natal, que, aliás, nem dou mais tanta importância qnto dava qndo era criança (ou pelo menos via a coisa toda de outro jeito, mesmo nunca tendo acreditado em Papai Noel) - enfim, do nada, parece q se instalou uma paz aqui em casa. Poder do natal? Pode até ser. Só sei q estou mto melhor agora!
Ah, só um pequeno comentário: qndo eu cheguei em casa, depois de entregar uns presentes na casa de parentes meus, e vi o nosso vizinho segurando a filhinha dele, um bebê ainda, no colo, e brincando com ela. Não sei se relacionei com aquela famosa cena do nascimento de Jesus, ou o que, mas fiquei feliz nesse momento. Pq ele parecia tão feliz com aquela coisinha fofa no colo, e ainda tinha tanto a ensinar a ela, e ela, tanto ainda a viver.
Eu não sou o que vc poderia chamar de depressiva, mas de uns tempos pra cá, e com isso eu quero dizer meses, eu tenho me questinado muito sobre umas coisas da vida. Umas coisinhas chatas, que vc vê em filmes toda hora, e fica se perguntando: putz, a vida é assim mesmo? As minhas questões intermináveis eram (não estranhe se achar totalmente sem sentido. Eu só penso em coisas aparentemente sem sentido):
• É possível achar alguém q vc consiga, pelo menos, aturar pelo resto da vida? Falo de casamento. Existe amor eterno? Bom, considerando o crescente número de divórcios, eu acho q isso ñ existe. Mas enfim, ñ cheguei a nehuma conclusão sobre isso;
• O mundo ainda tem jeito? Cara, hoje é natal, e tem gente passando fome enquanto eu como aquela ave Fiesta ENORRME e suculenta da Sadia! Tem gente morrendo por armas de fogo nesse exato momento! Putz, pior, tem carros e indústrias e usinas de energia lançando gases estufa na atmosfera, o planeta está cada vez com o clima mais louco, e eu ñ sei nem se meus filhos e netos terão água pura para beber.
Então, foi isso, e um pouco mais talvez, que passou pela minha cabeça enquanto eu via a Xuxa e mais um bando de cantores (incluindo Gabriel o Pensador) cantando aquela musiquinha feliz sobre o planeta Terra. Tudo veio de uma vez só, rodando na minha cabeça. Mas então, mesmo com todas essas questões, eu parei e pensei: e daí?
E daí que eu ñ sei muita coisa sobre amor, sobre famílias, sobre o mundo ao meu redor, e minha falta de poder para salvá-lo? E DAÍ? Bem ou mal, eu tenho minha famíla. Tive uma ceia farta. Tenho amigos, e amigos de verdade. Tenho uma boa saúde. E, desculpe a sinceridade, sou uma pessoa muito inteligente. Então, do q eu posso reclamar? Nada, com toda a certeza. Hoje é natal! Tempo de renovar esperanças, e bla, bla, blá. E vou te dizer uma coisa: certezas, eu não tenho, e nem poderia ter, tendo apenas 14 anos de experiência nesse mundo louco. Mas, uma coisa q eu realmente tenho dentro de mim, é fé. Fé em Deus. Fé nas pessoas que eu, de qualquer forma possível, amo, e vive-versa. Fé em mim mesma. E enquanto eu puder ter fé, aí eu tenho uma certeza: eu serei Feliz.
Feliz Natal para todos vcs, leitores! Obrigada pela audiência e... ah, vc escolhe, já q é 00:50 agora!
a)Boa-noite;
b)Boa madrugada;
c)Bom dia."

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Viagem pitoresca... ou quase isso

Olá, leitores! Hoje não postarei muitas palavras aqui. Em vez delas, vou mostrar algumas fotos meio "artisco-amadoras" que eu tirei aqui de casa. São as coisas que vejo, que contemplo em dias monótonos de férias. Minhas queridas flores, Alamandas; o céu, que poucas vezes tem essas nuvens finas e espiraladas, como se estivessem sendo sugadas para cima; e a minha querida cadela, Bulú. Espero que gostem ^^'


quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Compasso Ternário


Como vocês, talvez, já devem ter percebido, o título do post é "Compasso ternário". Por que cargas d'água? Porque eu entendo um pouco de música, seu noob (IAÊÊÊ! Tá, desculpe, sem ofensas ^^'). Esse tipo de compasso, que se escreve 3/4, é o compasso utilizado em valsas. Que tb é usado em alguns rocks. Pois bem, e o que você tem a ver com isso? Nada. É que eu tive a brilhante (?) idéia de dançar valsa com esse rock em compasso ternário. Foi uma idéia maluca. Mas ainda estou procurando alguém pra dançar comigo. Algum voluntário? *silêncio matador* ALGUÉM? POR FAVOOOOOR! *eco eco eco* *bola de capim seco rolando*

Tá, chega de drama. Juntando meus probleminhas pessoais e essa minha repentina paixão por valsa, inventei uma espécie de parábola. Ou conto, como queira chamar. Boa leitura!

Compasso ternário (sim, o título é esse mesmo, algum problema ¬¬’)

Entrei no salão. Meu suntuoso vestido preto de baile, com frisos e detalhes em amarelo vivo, arrastava-se no chão fazendo um ruído delicioso. Não vou mentir – eu me sentia uma verdadeira rainha.

De repente, um homem esquisito e magro pulou na minha frente e me deteve à porta. Trazia uma dezena de máscaras negras penduradas em um dos braços e ofereceu-me uma delas com um gesto gracioso, uma mesura, e um sorriso um tanto “circense” de Coringa. Não era para menos: ele estava vestido de arlequim. Tinha que incorporar o papel, eu presumo. Peguei a máscara da mão dele e a encaixei no meu rosto. Parecia ter sido feita especialmente para mim, de tão bem que se acomodou aos meus traços faciais. Logo que a pus, o arlequim desmanchou seu sorriso, e sussurrou no meu ouvido o que um bom amigo teria me dito naquele momento.

– Cuidado com as máscaras, milady. Elas escondem os rostos, e os corações, também. – Deus sabe que eu devia ter lhe dado ouvidos.

O baile estava ameno, ainda, àquela hora. A noite apenas começara. As damas deslizavam lentamente com seus vestidos longos, como se não tivessem pés, naquela espécie de dança européia que eu não consegui identificar. Deve ser mais uma daquelas que se dançam nas cortes, há gerações. Mas como não é costume fazê-lo por aqui, estranhei um pouco. Era um tanto suave – mas que eufemismo! Enjoativa, eu diria. Os casais apenas andavam em círculos com as palmas das mãos juntas, e logo trocavam de par, enquanto a banda, ao fundo, executava uma canção de aspecto bastante medieval. Posso ser uma moça da sociedade, mas não sou tão tola a ponto de aceitar cultura estrangeira dessa forma passiva, só porque é coisa refinada. Há algo de errado em preferir uma boa valsa, das ligeiras, ou um bom samba de gafieira?

Ah, perdoem minha falta de atenção. Esqueci de explicitar o motivo de tal celebração. Meu pai é um homem de posses, e conhece um banqueiro, faz muito tempo. Este banqueiro tem um filho chamado Mário, por quem tenho, desde menina, uma sincera amizade, e o qual faz anos hoje. Como a data cai sempre perto do carnaval – é lá para fins de fevereiro, o mês em que estamos – este ano seus pais resolveram dar um grande baile (quase) vienense. Ou seja, uma idéia biruta de quem não tem mais onde esbanjar dinheiro.

Ainda tenho minhas suspeitas de que esta é, de fato, mais uma tentativa de arranjar casamento para meu amigo. Pobre Mário, já com vinte e três anos completos e nenhuma moça sequer olha para ele – quando olha, é para lhe fazer troça! É certo que ambas as nossas famílias fariam gosto na nossa união, mas que se pode fazer se não o queremos? Crescemos juntos como irmãos, e é isso. Encontro mais afeto e apoio nele do que em meus próprios, de sangue, e por isso só lhe desejo que seja feliz.

Ele foi o próximo a me receber na festa. Estava mascarado, mas como a máscara, obviamente, encobria apenas o rosto e não o corpo, era impossível para mim não reconhecê-lo. Nos cumprimentamos alegremente, trocamos alguns comentários bobos sobre as figuras presentes no salão (quantos narizes empinados!) e começamos a andar por aí, procurando algo interessante para se fazer. Mário também sugeriu que fôssemos pegar alguma bebida, e eu o acompanhei. Ele sabia que eu tenho uma preferência especial por esses drinks de frutas que sempre servem nessas ocasiões.

Dizem que sou a alma da festa, pois não esquento banco, sou bem chegada às danças e trato de conversar o quanto for possível com meus amigos e família. Mas este meu dom nunca fora levado tão a sério: logo depois que cheguei, foi aparecendo uma multidão à porta do salão. O aniversariante se apressou para ir cumprimentá-los, pois a maioria eram amigos seus. A última convidada que vi entrar foi minha prima Clara, acompanhada de meus tios, toda sem jeito diante de tanta gente desconhecida. Devia estar maldizendo a Deus e ao mundo, em pensamento, pela cara que fazia. Culpa do calor infernal das noites de fevereiro, combinado com as roupas nada frescas que ela vestia – contra a vontade, certamente. Depois de uma rápida busca entre os convidados, ela me localizou e veio ao meu encontro, aliviada por ver um rosto conhecido.

Quando Mário voltou, convidou a mim e à minha prima a nos juntarmos aos seus amigos, disse que nos queria apresentá-los. Clara me lançou um olhar de protesto, pois não achava de bom tom ficar por aí falando com rapazes estranhos. – Você não lembra do que aconteceu da última vez, Ágata? Papai e mamãe quase surtaram por minha causa! Não, eu não vou me arriscar de novo. Não debaixo dos narizes deles! – Ela é assim mesmo; sempre certinha, a moça comportada de família (pelo menos, sempre parece ser). No fundo, eu sei que ela morre é de vergonha, não tem o traquejo social que eu, ainda timidamente, tenho (isso, claro, somado à rédea curta com que os meus tios a mantém). Enquanto ela ficou lá sentada, sorvendo seu vinho em pequenos goles, eu fui com ele sem pestanejar.

O grupo ainda estava naquele estágio inicial, delicado, de uma conversa entre amigos que não se vêem há algum tempo. Apertos de mão, tapinhas nas costas, como vais e tudo bens. Todos estavam muito bem vestidos e arrumados, mas nenhum me chamava a atenção em especial – obviamente, pois estavam de máscara. Eram quatro, ao total. Fui fazendo mesuras a cada um que me era apresentado, e depois cada um beijou-me na mão, como manda a velha praxe.

– Estes são Roberto, Bernardo, Flávio e Carlos – enumerava Mário. – E esta é minha amiga, Ágata.

Prestei bastante atenção no modo como cada um respondeu. Aprenda uma coisa: linguagem corporal diz mais do que as pessoas querem dizer, basta que se saiba perceber. Tenho treinado tais habilidades, de uns tempos para cá. Afinal, há coisas que simplesmente não se pode perguntar. E eu sou muito curiosa. Deveras.

O primeiro passou a mão no cabelo. – Encantado... – sinal de nervoso; o segundo me encarou (as máscaras permitiam ver os olhos das pessoas) enquanto beijava a minha mão. – Encantado! – atrevido! No terceiro – Encantado! – não notei nenhum sinal relevante; e, no quarto – En-encantado! – notei um número considerável de desvios do foco da visão, indo do chão ao teto e ricochetando, por vezes, na minha cintura (posso ter me enganado, é claro).

Apresentações feitas, voltou o estágio anterior da conversa. Mas agora, com uma pequena diferença: havia uma donzela no meio deles. O tom muda completamente. Os assuntos mudam. E as atenções, então, nem se fala.

O grande problema nisso tudo é que o assunto, definitivamente, é desviado para coisas corriqueiras, quase impessoais. Ah, não me diga que não sabe o porquê! Eles acham que eu sou ingênua – para não dizer burra. E que eu estou aqui conversando com eles só porque não quero ficar para titia. Ei, isso já passou há tempos! Por que eu insisto em usar o presente do indicativo? Deve ser porque ainda sinto essa sensação de desgaste bem viva em mim. Mas, que seja. Enjoada daqueles rapazes cheios de dedos comigo, me afastei, com o pretexto de ir tomar ar fresco do lado de fora. De fato, eu estava derretendo no meu vestidinho preto – e amarelo – indefectível.

Da sacada, ouvi o relógio bater sete badaladas. Estava escuro, para uma noite de verão. Mas o céu estava límpido, do jeito que só fica depois de uma semana de chuvas. Alguém me disse, certa vez, que estrelas muito brilhantes podem não ser estrelas, nem planetas, mas sim satélites artificiais. Mas que besteira! Estamos no século XIX, ou não estamos?

E assim fui devaneando, caindo cada vez mais em meus pensamentos, olhando para a lua minguante e extasiada por seu brilho prateado, embalada pela música lenta que vinha do outro lado da porta, que eu mesma fechara. O vento lá fora estava mais quente do que eu pensava. Ele vinha pesado, úmido e dormente no meu rosto. Agitava meus cachos ruivos, como se dissesse: “ei, sua boba, deixe de ser anti-social e volte para lá!” E quem disse que eu ouço brisas?

Apesar de discordar daquele ventinho filho da mãe, algo logo me fez sentir tentada a voltar. Adivinha o que foi? Acertou: a minha curiosidade. Ela estava dormindo, até que uma música diferente – totalmente diferente de qualquer coisa que eu já tenha ouvido em toda a minha curta vida – começou a tocar no baile, e a despertou com um pontapé violento, um balde de água fria e um gole de café forte. Não, não estou exagerando!

Se você me permitir, meu caro – ou minha cara – eu me esforçarei para explicar o inexplicável.

Primeiro, parecia uma valsa. O ritmo dançante e suave, que eu tanto aprecio. Mas, depois, entrou um som distorcido, cheio, agressivo e apaixonante ao mesmo tempo! Senti um calafrio me percorrer a espinha, como se cada nervo meu respondesse àquela estranha música. Somaram-se os sons de uma bateria, com aquele timbre grosso e mais o quarteto de cordas, que começou a arranhar seus dois violinos, o cello e o contrabaixo – eu podia ouvir cada detalhe, todos soavam harmoniosamente. Quando dei por mim, já estava hipnotizada, bailando sozinha e feliz porta adentro.

Os rostos se mostravam mais confusos do que o meu deveria estar. Ninguém parecia ter ouvido aquela música algum dia. Alguns torciam o nariz. Outros balançavam a cabeça, em tom de aprovação. Eu não prestei muita atenção, mas devo ter sido a única desvairada a se deixar levar pelo ritmo quebrado daquela valsa pesada. Era isso: uma valsa pesada.

Sem me dar conta, eu passava por todos que me conheciam, e eles julgavam que eu estivesse bêbada, eu acho. Que importa, eles é que não sabem aproveitar tão boa música! Mas os segundos de fruição no meu paraíso particular cessaram logo. Porque dei de cara com um rapaz, que não se desviara para dar passagem à “bêbada”, como todos estavam fazendo. Em vez disso, ele preferiu me segurar, pois eu caí quando esbarrei com ele.

– Ai, por Deus, me perdoe! – disse eu, sentindo o rubor de vergonha subir à minha face, que deveria estar tão vermelha quanto o meu cabelo. Ele me segurava com firmeza. Isso me lembrou que, na maioria das histórias românticas que eu costumo ler com Clara – escondidas de nossos pais, é claro! – quando uma donzela cai nos braços de um jovem forte e virtuoso, ela se sente segura e protegida de todos os perigos deste mundo. Mas eu vou te contar uma coisa: isso é lorota! Lo-ro-ta! O que eu senti quando as pontas dos seus dedos enterraram-se em meus braços foi, nada mais, nada menos do que...

...Deixa pra lá. Não quero destruir o que sobra da minha imagem de boa moça.

Só quando levantei os olhos é que percebi que o cavalheiro não me era desconhecido. Como você já poderia esperar – habemus clichê! – era um dos amigos de Mário. Ele me olhava por trás da máscara, com o mesmo descaramento e intensidade de antes, agora a uma distância menor de mim. Se não fosse pela sombra que o acessório produzira por sobre seus olhos, eu teria certeza de que eram negros. Desculpe-me se não especifiquei até agora qual dos amigos ele era. Afinal, o tímido poderia ter tomado coragem, ou o atrevido poderia ter se acanhado, o que não fede nem cheira poderia ter passado um perfuminho (maldito trocadilho!), e o que me olhou de cima a baixo poderia ter ido conferir se o que ele via poderia ser dele. São tantas opções, não é?

Mas foi o Bernardo, mesmo. O mesmo casaco vermelho vivo, com ricos detalhes em dourado, camisa branca com babados no peito, botas pretas e ombros largos. Eu já havia me equilibrado sobre meus próprios pés, mas ele insistia em me segurar.

– Não foi nada. A senhorita deveria prestar mais atenção por onde anda. – ele disse, com um cavalheirismo condescendente que me irritou. Sabe, aquele tom que se usa, quando se sabe que está falando com alguém inferior a você. Mas, como eu não estava com vontade de arranjar desavenças com um estranho em plena festa de meu bom amigo, fui tolerante.

– Eu costumo ser atenta, senhor. – respondi, ao passo que me libertava de suas mãos – Estava apenas enfeitiçada por essa música tão... exótica.

– Compreendo – ele rebateu, com um sorriso. – Também fiquei quando a ouvi pela primeira vez. Eles – e apontou para a banda, no fundo do salão – são amigos meus. Eu fui o responsável por terem vindo tocar aqui.

Se eu não estava surpresa o bastante antes, esta era a hora de ficar. – Você os conhece? – indaguei, ao que ele respondeu que sim (dã!), e daí iniciamos uma conversa amigável.

Bernardo contou-me que aquele som distorcido era um efeito de vanguarda, que os músicos do conjunto haviam descoberto em viagens ao exterior. Era aplicado num dos instrumentos de cordas, para modificar o som.

– Então, juntaram com a bateria, cordas clássicas e vocais; e foram misturando e testando, até chegar nessa maravilha aí. – ele explicava.

– E mais o ritmo de valsa, certo?

– Exatamente. Duvido que você tenha ouvido alguma mais compassada, ou mais vibrante do que esta.

– Por certo que não! Me sinto incapaz de não me movimentar enquanto ela tocar. – E era verdade. Por todo esse tempo, eu continuava me balançando de um lado para o outro. Não sei se devia ter dito isso, pois talvez ele tenha interpretado como uma indireta.

– Se é assim... Me daria a honra dessa dança, senhorita? – Eu não podia me ver no espelho, mas aposto que o olhei como se fosse um louco. Entretanto, esta foi apenas a primeira reação. Em dois tempos (ou três...), estava eu dançando novamente. Desta vez, acompanhada.

E muito bem acompanhada. Bernardo guiava maravilhosamente, aprendeu rápido a acompanhar meu pique. Enquanto conversávamos, nós girávamos e deslizávamos livremente pelo salão, a velociade fazendo minhas longas saias se esvoaçarem. De um lado para o outro; de um lado para o outro; roda, roda, roda e, de repente, uma arrancada! – e eu sentia meu tronco sendo jogado para trás. Aquela sensação de leveza era muito boa. E o contato com o corpo de Bernardo... Meu deus, eu podia sentir o cheiro de sua pele daquela distância ínfima – era entorpecente.

Foi-se juntando tudo – a música, a valsa, o calor, o cheiro – e logo eu estava totalmente tonta, em êxtase. Minha percepção do mundo exterior desaparecera. A única vez em que ousei sair para ver o que acontecia ao meu redor, pude perceber que éramos os únicos que dançavam. O resto dos convidados nos observava, ora com curiosidade, ora com um ar de desaprovação. Mas de que me importavam suas opiniões, se meus pés agora dançavam quase que por si mesmos?

Estava tudo na mais perfeita harmonia, quando a música parou. Foi um baque parar de dançar e cair de novo na realidade. Bernardo voltou o rosto para mim. Seu olhar me convidava, mais do que qualquer palavra dita neste mundo, a ignorar toda a gente conhecida em volta e apertar os lábios dele contra os meus – me desculpe, eu decididamente não estava em meu juízo perfeito!

– Nossa, como você dança! Eu confesso que estou cansado. – ele sorriu, quase se desculpando.

– Mesmo? – disse eu, com uma voz tão estranhamente lânguida que nem sei de onde veio. – Pois eu não.

– Vou descansar um pouco. Voltarei logo, para continuarmos a conversa – e antes que eu pudesse dizer “mas...”, ele desapareceu no meio da multidão. Eu estava pronta para seguir seu rastro, quando percebi que as atenções ainda estavam voltadas para mim. Mário me olhava estupefato, Clara com cara de quem não entendia nada. E meus tios, como se estivessem escolhendo o veneno que iriam colocar na minha comida no dia seguinte. Seguir Bernardo na frente de toda essa gente? Não, obrigada, é exposição demais para uma noite só. Preferi a companhia de minha prima e de meu amigo, e fomos para um lugar mais afastado.

– Ágata, o que deu em você? – ela perguntou, indignada. – Desde quando você sai por aí se oferecendo para qualquer um?

– Eu não estava me oferecendo, estava dançando! Qual é o problema?

– Não há problema nenhum em dançar, mas vocês estavam muito estranhos – comentou Mário, tentando ser cuidadoso com as palavras. Os dois continuaram me acusando, e eu acabei reconhecendo que fora um pouco longe demais.

Alguns minutos depois, cansada de receber conselhos, eu saí à procura de Bernardo, que até agora não retornara. Andei por todo o salão, dentro e fora, mas não o encontrei e, com raiva, desisti.

– Ágata! – uma voz distinta me chamou, quando eu começava a deixar o pátio. Era ele! Abriu um sorriso enorme quando me virei. Veio na minha direção a passos largos.

– Onde você estava? – ele perguntou.

– No salão, conversando com amigos – respondi, seca.

– Eu estava te procurando. Me desculpe, fui fazer companhia a um amigo meu, que estava sozinho.

– Hum – concordei, sem acreditar, com a cabeça.

– Olha, eu sei que isso pode parecer estranho, mas... será que eu posso ver o seu rosto?

Minhas táticas de detecção de linguagem corporal iam por água abaixo. Não consegui captar nenhuma impressão. O que ele queria com isso? Será que Clara tinha razão, dessa vez?

– Para que? Estamos em um baile de máscaras, o objetivo é ninguém ver o rosto de ninguém. – Era melhor cortar o mal pela raiz. Ele parecia não ter me ouvido, pois continuou falando.

– O seu sorriso é lindo. Eu queria poder ver o resto. – ele disse, num tom mais baixo do que o de antes. O resto? Que resto? Foi impressão minha, ou isso pegou mal?

– Obrigada, mas não posso tirar minha máscara. – Mas que insolente! Nós estávamos conversando tão bem, e agora ele começa a me seduzir? Ou fui eu quem começou, com a dança? Não sou nenhuma boba para cair em garras de conquistador!

– Então, deixe-me explicar melhor. – a voz dele saía doce, não sei se artificial ou não. – Eu me apaixonei por você, Ágata.

Ah, não. Isso não! O que mais eu podia fazer naquele momento, além de fugir? Nada. Eu precisava fugir de mim mesma, para não cometer um grande erro. Então, foi isso o que eu fiz. Dei-lhe uma desculpa esfarrapada e me mandei para dentro do salão.

A música agora era calma. Fiquei um pouco surpresa ao ver que Mário e Clara resolveram dançar, em meio a vários casais. Continuei vagando pela festa, parando vez por outra para falar com alguns conhecidos e parentes. Tentei me distrair, e até dancei de novo. Porém, começou a crescer dentro de mim um arrependimento terrível. Como eu pude ser tão grossa? Não era isso o que eu queria ouvir? Talvez não desse jeito, não tão cedo. Mas, e se fosse verdade? Bernardo merecia uma chance! Ai, maldita volubilidade a minha!

O diabo era que, pela segunda vez, eu não conseguia achá-lo. A busca tornava-se mais difícil ainda pelo fato de que todas as máscaras eram iguais, e o salão estava praticamente lotado.

As horas voaram, e eu sabia que o baile estava perto de terminar, conforme a multidão ia escoando pela porta. Pensei se ele já teria se ido sem se despedir de mim, ou se estaria indo embora com outra pessoa. Quase como uma resposta aos meus pensamentos, eu o avistei. Estava já do outro lado da porta, caminhando em direção ao portão do jardim que circundava o casarão. Sem pensar em mais nada, fui ao encontro dele.

– Bernardo! – desta vez, quem chamava era eu. Ele deve ter ficado surpreso, mas não tenho como saber ao certo. O pouco que eu podia ver de seus olhos, por trás da máscara, era indecifrável.

– Me perdoe, eu não sei por quê agi daquela forma! Você me assustou, mas... se você quiser...

– Não precisa se preocupar, senhorita. – ele me interrompeu. – Eu não vou lhe pedir mais nada. Tenho que ir. – Falava como se o que ele tivesse me pedido fosse algo trivial, como uma caneta emprestada ou algo assim. Eu precisava ver sua expressão facial. Precisava saber se tudo aquilo era verdade. Se aquele tom de voz não era uma ilusão. Se aquele homem não era uma ilusão. Eu precisava dizer alguma coisa.

– Mas eu tenho algo para lhe pedir. Por favor, tire sua máscara!

E ele respondeu com o silêncio. Podia ser um silêncio de vingança; podia ser de vergonha; poderia ser por mil motivos, que eu sequer poderia imaginar naquele curto instante. Eu apenas não o interpretei.

– Adeus – ele disse, ao virar as costas para mim. Preferi seu silêncio mortal a ouvir aquilo. Confusa, virei as costas também e comecei a caminhar de volta para a porta. Segundos depois, parei. Num último esforço, arranquei com força a máscara do meu rosto. Voltei-me novamente para o portão.

– Vê, esta sou eu! – gritei, para Bernardo. Que sumira, do nada. Só o jardim foi testemunha daquela cena.

Esbocei minha melhor cara de “não aconteceu nada” e entrei, para avisar a Clara de que já estava tarde, que eu estava cansada, e pedir a meus tios que eu dormisse na casa deles. Ainda rimos um tanto, conversando com Mário e com seus pais, que diziam, orgulhosos: “nosso baile foi um sucesso!”

Bailes podem ser mesmo muito prazerosos. Mas, uma hora, eles acabam.


segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O Café da Biblioteca: versão 3.0 xD

Olá, leitor! Bem vindo ao meu velho novo blog! Eu suponho que vocês estejam esperando por uma explicação para essa segunda mudança, certo? Pois bem, lá vai:
Estou com raiva do UOL. Ele foi minando a minha liberdade de opinião no meu próprio blog, até que ele tirou os botões que escolhiam a fonte do meu texto, e eu fiquei fula da vida. Pode até parecer meio fútil, mudar de serviço só pq a fonte não pode ser a que eu quero... tá, isso é. [drama mode: on] Mas me tiraram muito mais do que uma simples fonte; tiraram minha liberdade de escolha! [drama mode: off] Então, como eu já estava com os dedinhos coçando pra dar uns cliques no mouse, digitar algumas informações minhas e voilá, fazer meu blog aqui, pronto, tá feito! Como vcs podem ver, o estilo ainda é o mesmo. Vou melhorando aos poucos, tenho que me acostumar com a minha nova... biblioteca. Espero que tenham gostado se não gostou nem precisa voltar! Ah, e eu estou trabalhando naquele conto que eu tinha anunciado no último post que escrevi, lembra dele? Bom, eu vou publicar logo que terminar, mas é que ele está saindo mais longo do que eu supunha. Ele virá acompanhado de um desenho meu, no qual o próprio conto foi inspirado ^^ (estranho, criar uma história a partir da ilustração... mas tudo bem). Obrigada, pessoal, por continuarem lendo essa budega! Ah, e eu esqueci... vcs sabiam que, em setembro do ano que vem, o Café vai tá fazendo três anos?? Éeeeh *¬* e depois de tanto tempo, de tantos layouts, de tantas críticas e besteiras faladas, eu ainda estou aqui firme e forte! E espero estar, até lá, pra poder comemorar com vocês!
Ei, quase esqueci de falar: eu sempre me identifiquei aqui como Bia Scabbia. Mas, novo blog, novo pseudônimo: May Queen (traduzindo, "Rainha de Maio"). Me lembrem de escrever um post peqeunininho para explicá-lo, sim?
Boa tarde!