sábado, 13 de fevereiro de 2010

Te pego lá fora

Antes de tudo, quero agradecer à Mari por ter me dado essa idéia depois de tanto tempo que esse Café ficou às moscas. Valeu, Mari :)

Cof, cof, voltando...


A garota olha para trás e ajeita os óculos no rosto. É ele chamando, mais uma vez. Um seguidor não-anônimo, atento e persistente, desde os tempos da sexta série do ensino fundamental. Mas ele não vem com rosas nas mãos e palavras doces saindo dos lábios, não. Ele vem com ódio no coração, alguns capangas que se dizem seus amigos e uma navalha afiada no lugar na língua.
-
Essa daí só vive estudando, não faz mais nada, parece até um robô!
Ela tenta ignorar.
-Ei, olha aí a robô! Tá fazendo dowload de novo!
Ela tenta ignorar.
-Ih, do jeito que tá chovendo ela já deve tá enferrujada! (risos)

...E ela não consegue ignorar.



Se você acha que isso é um trecho de filme clichê de escola (ou "high school") americana, você está enganado. Isso foi um trecho da minha vida.

Parece mesmo que o bullying, em todas as suas formas, é só um clichê cinematográfico. Repetido em tantos filmes, né? Pra fazer uma pequena lista, temos:
- Te pego lá fora
- Meninas malvadas
- A vingança dos nerds
- Elephant
- Tiros em Columbine
- Um grande garoto
- Nunca fui beijada
- Entre muitos, muitos outros.

Mas quem me dera fosse só um clichê cinematográfico.

Você pode achar que é exagero, que é coisa normal de colégio, e que aqui no Brasil nossa cultura é diferente, blábláblá. Acredite, se fosse, eu não estaria aqui escrevendo sobre uma coisa que aconteceu há pouco mais de dois anos atrás. Podemos não ter nossas patricinhas animadoras de torcida, ou nossos capitães de time de futebol americano, ou mesmo nossos valentões ordinários, dos quais toda a escola tem medo. Mas temos, sim, nossa segregação estudantil "à brasileira".
O pior é que, como aqui isso é uma coisa bem mais sutil, bem mais velada, pouca gente se dá conta de que existe. Tratam alguns sintomas - como os tão famosos apelidos de "rolha de poço", "quatro olhos" (esse ficou até fora de moda, de tão usado!), "CDF" - e as possíveis brigas isoladas que surgirem no caminho. Só que são poucas as escolas que levantam essa questão entre os alunos.
Na minha escola mesmo isso já foi feito. Era um projeto de uma turma de uma série anterior à nossa, na época, e eles espalharam cartazes por toda a escola. Foi uma tentativa admirável, tanto da parte da turma quando do professor que coordenou e idealizou. Agora imagine a minha decepção quando vejo aquele ser-do-mal fazendo do cartaz pregado na parede da sala uma piada:
-Ih, que legal, pelas coisas que estão dizendo aqui eu sou um BULLY! HAUHAUHA, somo bully mermo, neguin!
(a blogueira pede desculpas por eventuais erros na transcrição da fala anterior e assegura que, se não foram exatamente essas palavras, foi pior.)
Vocês entenderam, né, pessoas? NÃO ADIANTA. Tem que ser uma coisa grande, todos se unindo e com colaboração da mídia, que nem fazem com a camisinha e com a dengue. E, se as pessoas que fazem isso não mudam, que pelo menos as que não fazem, mas tem como impedi-las ou atenuar a sua ação, se mexam. Sim, é um problema fora da lista de prioridades de qualquer governo. Mas não é porque um problema é pequeno ou atinge uma parte minoritária da população que se deve virar as costas pra ele.
Porque quem sentiu na pele, sabe como é. É um quase terror psicológico, pior do que muita surra de colégio americano, porque dura por muito mais tempo do que um soco e dói por muito mais tempo.
Não vou discutir o porquê das pessoas fazerem isso, ou que tipo de pessoa pode ser vítima, porque é um tanto complexo. Podemos simplificar assim: o ser humano, infelizmente, gosta de se sentir no poder, superior aos outros, e se você não consegue crescer sozinho, você diminui alguém pra se sentir maior. Deixo as perguntas e respostas derivadas pra vocês comentarem. E deixo aqui um trecho de uma ótima música - "Teenagers", My Chemical Romance - pra concluir.

The boys and girls in the clique,
The awful names that they stick
You’re never gonna fit in much, kid

But if you’re troubled and hurt,
What you got under your shirt,
Will make them pay for the things that they did


...Que significa:




Os garotos e garotas da panelinha

Os nomes horríveis que eles põem

Você nunca vai se enturmar, cara



Mas se está encrencado e ferido,

O que você tem debaixo da sua camisa,

Vai fazê-los pagar pelas coisas que eles fizeram


Interpretem como quiserem, mas podem ficar calmos que eu não vou matar ninguém. xD




5 comentários:

Isis ~ Pon disse...

*palmaspalmaspalmas* Com certeza, um assunto que pode criar um blog inteiro! XDDD
É realmente chato esse negócio de bullying... E olha! Eu já fui vítima também. BATE AQUI! o/ HAUAHUAHAUHAA XDDD

Acho que o principal é o 'bullyado' ter e saber que tem apoio: dos amigos, dos professores, da família. Para lidar e contornar essa situação da melhor maneira possível. Porque o jeito como você lida com o bullying também muda muita coisa! Se você se mostra atingido, a coisa continua, pq o outro se sente 'poderoso'. Mas quando você não liga mais, a coisa 'perde a graça'. Anyway, já falei demais. XD

Kissuuuuus

Esquilo

Mari disse...

Cara, senti medo com a tradução de Teenagers. Tudo bem que sempre escutei a música, mas nunca lia a tradução. Ela me deu "medin"...
ACho que todos já sofremos algum tipo de bullying, ou já fizemos alguém sofrer. Algumas coisas foram mais suáveis, outras mais duras. Como a Isis disse, temos que saber que muita gente nos apoia contra isso e temos que buscar ajuda para acabar com isso.

Mateus disse...

Eu demorei, mas aprendi a lidar. N sei explicar como faço, mas os "bullies" não aguentam me encher o saco mto tempo. Em parte, o q é menor, eu tento adaptar de forma positiva, por exemplo o antigo (e obviamente sarcástico) apelido de "Rambo" q eu tive. O resto... Sei lá, mas dou meu jeito :P.
Eu me mantenho positivo porque consigo ver que essas pessoas não têm cérebro o suficiente pra virar algo útil pra humanidade, e portanto, sofrerão as consequencias. Esse tipo de gente se perde quando se vê num mundo onde os inspetores de escola foram substituídos por policiais, as advertências por multas e as suspensões por cadeia. Mesmo os que conseguem se "comportar" depois de sair da escola, nunca conseguem muita coisa de bom, pois perdiam o tempo durante o qual deviam estudar pra, como diz uma amiga minha, "bullyngar".

Victor disse...

Eu acho isso tudo muito desprezível e só iremos crescer como sociedade quando começarmos a combater atitudes desse tipo... Pode ser uma certa megalomania minha, mas se não repreendermos atitudes como essas, um cidadão como esse (se é que pode-se chamar um bully disso) fatalmente ficará em cárcere no futuro por causa dessas atitudes. Ou não, né! :S
Como ela falou, só com colaboração da mídia mainstream MESMO que dá pra combater algo desse tipo...

Edvan Moraes Jr. disse...

Esse é, de fato, um assunto muito importante de ser debatido, principalmente qdo é tão bem exposto (adoro os textos da Bia).
Infelizmente, certas pessoas têm a necessidade de diminuir as outras para se sentir melhor. Cabe a nós vestir essa camisa e tentar ajudar ambos os lados, confortando quem foi "bullyinado" e tentando mostrar a quem pratica esse gesto que essa não é a melhor maneira de "evoluir" (no sentido q preferirem).
Esperarei mais textos!